Uma imagem publicada pelo Ministério da Justiça no Facebook provocou polêmica ao relacionar descendentes de angolanos e ganeses à imigração. Na postagem, um jovem negro diz: "Meu avô é angolano, meu bisavô é ganês. Brasil, a imigração está no nosso sangue".
O texto do post diz que "há cinco séculos, imigrantes de todas as partes do mundo ajudam a construir nosso país". Ao rebater as críticas no próprio perfil, o ministério diz que "o objetivo da campanha é enfrentar a xenofobia e toda forma de ódio, preconceito e a intolerância, inclusive o racismo" (leia mais abaixo).
Várias pessoas comentaram o post, publicado na noite de terça-feira (13), lembrando que imigrantes destas nacionalidades vieram para o Brasil "traficados, escravizados". Até as 12h desta quarta-feira (14), havia centenas de comentários, mais de 2 mil compartilhamentos e 15 mil curtidas.
Entre os comentários, usuários da rede social afirmam que "tráfico de pessoas como mercadoria não é imigração" e que a "Pátria educadora apaga a História real de seus colonizadores. Coloca escravidão como imigração e chama todo afrodescendente de trouxa".
Em resposta às manifestações, o Ministério da Justiça disse aos seguidores na rede social que "agradece as contribuições dos comentários, e apoia a importante discussão sobre a escravidão na nossa história". "O foco é mostrar que a sociedade brasileira é composta de descendentes de migrantes de todas as partes do mundo", escreveu.
O ministério salientou na resposta que a campanha abordará "várias histórias de brasileiros e brasileiras que são descendentes de nacionalidades as mais diversas" e que possui um telefone para denúncias no enfrentamento ao tráfico de pessoas.
"Escravizadas"
Um dos primeiros comentários postados após a publicação do post polêmico foi de Juliana Borges, que diz, em seu perfil na rede social, ser assessora do gabinete da secretaria de governo da prefeitura de São paulo e secretária municipal de Mulheres do PT de São Paulo.
"Imigrante? pessoas TRAFICADAS e ESCRAVIZADAS foram imigrantes? Alguém nos salve de um Ministério da Justiça desse!", comentou Juliana.
À reportagem, Juliana disse que não gostaria de falar sobre a questão. O G1 questionou a assessoria de imprensa da prefeitura de São Paulo, que pediu para que a informação sobre a função de Juliana fosse confirmada no portal de transparência municipal. Neste site, Juliana consta como assessora especial, lotada no gabinete do prefeito. O G1 também pediu a posição oficial do Ministério da Justiça sobre as manifestações referentes ao post polêmico, mas não recebeu retorno de ambos até a publicação.
Veja abaixo a posição do Ministério da Justiça no Facebook:
"O Ministério da Justiça agradece as contribuições dos comentários, e apoia a importante discussão sobre a escravidão na nossa história. Esclarecemos que o foco da campanha é enfrentar a xenofobia e toda forma ódio, preconceito e a intolerância, inclusive o racismo, e também mostrar que a sociedade brasileira é composta de descendentes de migrantes de todas as partes do mundo.
A campanha contra a xenofobia abordará várias histórias de brasileiros e brasileiras que são descendentes de nacionalidades as mais diversas - incluindo africanas, latino-americanas, europeias, asiáticas. São pessoas que ajudaram a construir o país que conhecemos hoje. Queremos mostrar que o encontro de culturas é a riqueza de nosso país, e desestimular qualquer manifestação discriminatória.
De todo modo, é muito importante lembrar que o governo promove diversas medidas de inclusão para reverter essa triste herança, como é o caso das políticas de ações afirmativas, e de enfrentamento ao preconceito, como o Disque 100. Além disso, o Ministério da Justiça participa da coordenação da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas."