A administradora de empresas Márcia Alencar (nome fictício), aos 47 anos, 24 de profissão, precisa lidar com o dilema de escolher diariamente quem será ou não mantido no emprego e, ao chegar em casa, convive com a luta do marido para se recolocar no mercado de trabalho.
Tanta pressão, associada a problemas pessoais e de saúde, foi determinante para que ela desenvolvesse pela primeira vez na vida uma crise de depressão.
Para conseguir enfrentar o que chamou de "fantasmas do dia a dia", ela tem precisado de ajuda profissional e medicamentos.
Funcionária de uma grande empresa no Rio de Janeiro, Márcia viu sua vida virar pelo avesso ao se deparar com a constante e árdua missão de cortar funcionários, muitos deles amigos que fez em anos de empresa.
Nos últimos 12 meses, foi obrigada a dispensar cerca de 40 profissionais. Com o avanço da crise, ela não sabe quantos mais terá de demitir. Ir ao trabalho se tornou uma missão difícil.
"Tenho que demitir pessoas todos os dias. Muitas delas estavam fazendo planos, comprando carros novos ou mesmo uma casa. Tenho que decidir a vida de amigos", conta a administradora, que chegou a desenvolver síndrome do pânico.
Márcia faz parte de um grupo que chama a atenção. De acordo com uma pesquisa do centro de medicina preventiva Med-Rio, levando em consideração a análise de 6 mil formulários de pessoas que fizeram check-up no primeiro semestre deste ano, 12% dos pacientes apresentaram quadro de depressão, contra 8% do mesmo período de 2014 - um aumento de 50%.
Já o quadro de ansiedade foi detectado em 32% das pessoas. No ano passado, eram 20%.