A partir de abril, a inflação mensal deverá atingir "patamar bem inferior" ao registrado nos três primeiros meses desse ano, quando ocorreu a concentração de realinhamento dos preços administrados (como reajustes de energia elétrica e gasolina, por exemplo) na economia, informou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, nesta terça-feira (24) durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a inflação oficial do país, medida pelo IPCA-15, ficou em 1,24% em março. No acumulado de 12 meses, o índice foi para 7,9%, o maior desde maio de 2005 (8,19%). Em março de 2014, o IPCA-15 havia sido 0,73%. No ano, a taxa é de 3,5%.
O mercado financeiro já projeta um IPCA acima 8% para todo este ano. Pelo sistema de metas brasileiro, o objetivo central para 2015 e 2016 é de 4,5%, mas o IPCA pode ficar em até 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Segundo avaliou o presidente do BC no Congresso Nacional, a inflação dos primeiros meses deste ano, além do processo de alta dos preços administrados, também está sofrendo influência, para cima, do "realinhamento dos preços domésticos em relação aos preços internacionais, em particular devido ao fortalecimento do dólar americano frente a várias moedas".
Taxa de juros
"Nesse cenário, cabe à política monetária [definição dos juros] conter os efeitos de segunda ordem, assegurando as condições necessárias para a inflação convergir ao centro da meta em 2016", declarou ele. Recentemente, o BC subiu a taxa básica de juros para 12,75% ao ano, o maior patamar em seis anos.
De acordo com Alexandre Tombini, a política de juros para conter as pressões inflacionárias "está e continuará vigilante". A expectativa dos analistas do mercado financeiro é de, pelo menos, mais uma elevação na taxa básica da economia em 2015, para 13% ao ano.
Objetivo inflacionário de 4,5% em 2016
O presidente do Banco Central reafirmou ainda que o objetivo da autoridade monetária, de trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% em todo ano de 2016, é "factível".
"Há um alinhamento de politicas macroeconômicas [controle de gastos e alta de tributos para melhorar as contas públicas]. Isso contribui para aumentar potência da política monetária. O realinhamento dos preços administrados é significativo e concentrado no primeiro trimestre deste ano. Com isso, reduz-se as pressões à frente. O mercado de trabalho está menos tensionado", declarou ele.
Acrescentou ainda que, a despeito do fortalecimento do dólar americano (que aumenta as pressões inflacionárias, uma vez que produtos e insumos importados ficam mais caros), alguns fatores podem mitigar o repasse (para os preços domésticos).
Ele citou, neste caso, o cenário prospectivo (queda de preços) das "commoditties" (minério de ferro e petróleo, por exemplo), além da "posição cíclica" da economia brasileira (desaceleração da atividade) e o enfraquecimento de outras moedas frente ao dólar. "Há um conjunto de fatores que indicam ser factível a convergência da inflação para o centro da meta em 2016", declarou.
Ano de 'transição'
De acordo com o presidente do Banco Central, o ano de 2015 será de "ajuste" e de "transição". "A economia brasileira passa por um ajuste importante e necessário. 2015 ano de transição e contrução de bases mais sólidas para o crescimento sustentado mais à frente", declarou ele.
A expectativa do mercado financeiro é de uma retração de 0,83% neste ano, o que, se confirmado, será o maior "encolhimento" do PIB em 25 anos.
Tombini, do BC, observou que a confiança de consumidores e empresários está em patamar baixo e acrescentou que deverá haver crescimento na agropecuária neste ano, e uma alta modesta no setor de serviços, mas uma retração na indústria de transformação.
"O consumo das famílias deve ter alta modesta [em 2015], com desaceleração dos rendimentos e do crédito. Os investimentos devem retrair-se, mas espera-se contribuição positiva do setor externo, com aumento de exportações e queda de importações", declarou ele.
Taxa de câmbio e contratos de 'swaps'
Alexandre Tombini, do Banco Central, avaliou ainda que o processo de alta do dólar, que está sendo registrado no Brasil, também está sendo registrado em outras economias.
De acordo com o presidente da autoridade monetária, o dólar avançou 21% sobre as seis principais moedas globais nos últimos seis meses. Na comparação com o euro, a alta foi de 20% neste período, disse ele.
"Ou seja, a valorização do dólar é um fenômeno glogal e tem implicações sobre os Estados Unidos também. Parte do crescimento [dos Estados Unidos] depende do crescimento global e a valorização de sua moeda pode arrefecer o ímpeto de sua expansão", declarou.
Segundo o presidente do BC, o programa de "swaps cambiais" da instituição tem "atingido plenamente seu objetivo". Os contratos de "swaps cambiais" - instrumentos que funcionam como venda de dólares no mercado futuro (derivativos), o que também impede uma pressão maior no mercado à vista da moeda norte-americana - vêm sendo ofertados diariamente pela autoridade monetária desde agosto de 2013, momento no qual o dólar atingiu R$ 2,40.
Até o momento, o planejamento do BC é que o programa continue até o fim de março. Nesta terça-feira, Tombini afirmou que o programa de swaps cambiais tem "importante papel no âmbito da estabilidade financeira e da própria economia neste momento de normalização das condições monetárias nos Estados Unidos com implicações na economia global". O mercado financeiro pede a prorrogação do programa de swaps do BC nos próximos meses.
De acordo com Alexandre Tombini, a atual situação "não enseja qualquer necessidade de reversão" do estoque de "swaps" em mercado, atualmente acima de US$ 100 bilhões. "Temos condições de renovar integralmente posições no curto e médio prazos. O estoque de derivativos já atende de forma significativa a demanda por proteção cambial", acrescentou.